terça-feira, 26 de abril de 2022

EU JULGO, TU JULGAS, ELE JULGA

Provavelmente você vai se deparar hoje, em algum momento, com a imagem de um laço formado por peças de quebra-cabeça com cores vibrantes que representam a diversidade, a inclusão social e a esperança afinal, celebramos o Dia Mundial de Conscientização Sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA). 

Mesmo que você não conheça ou acredite que nunca tenha tido contato com um familiar, amigo ou com alguém que tenha essa síndrome, tenho certeza que a causa vai te sensibilizar, mas talvez você se pergunte: Como posso contribuir? Qual o meu papel?

Ajudar a expor esse tema, através do símbolo por exemplo, já é um bom começo, pois o desconhecimento ainda é um grande entrave. Refletir seus hábitos também ajuda, pois muitos podem estar carregados de julgamento sem que você perceba. 

Recentemente, em uma das minhas palestras sobre autismo, uma mãe não me pediu ajuda e nem sugeriu qualquer política pública, como é recorrente. Ela fez um desabafo comovente sobre algo que pode parecer simples, mas na verdade tem nome e é cruel: o julgamento. Com alguns exemplos ela me convenceu sobre o quanto podemos estar errando com nosso próximo. 

O que você faria se visse sair de um carro estacionado em vaga especial uma pessoa sem cadeira de rodas e sem qualquer traço que indique uma necessidade especial? No mínimo ficaria indignado e julgaria a motorista que usou a vaga que supostamente não lhe é de direito.

E na fila do supermercado, depois de um dia cansativo de trabalho? Como reagiria ao ver uma criança gritando ou agredindo sua mãe? E dentro do ônibus lotado, diante de uma criança que se joga no chão? Julgaria a mãe por não dar educação? A acusaria, mesmo sem verbalizar, mas com olhares de reprovação, pela sua suposta incapacidade de estabelecer limites?

E a mãe que há alguns anos teve a foto exposta em rede social porque, por segurança, segurava seu filho com uma “corda” enquanto acionava um motorista de aplicativo? Ela foi julgada pelo “tribunal da internet” porque estaria se distraindo no celular e segurando a criança como “um cachorro na coleira”.

A gente não tem dimensão da realidade de ter um filho com TEA e a exaustão física e emocional que essa missão implica. Por isso faço questão de compartilhar essas situações cotidianas que mostram o quanto podemos, individualmente, rever nossas posturas e tirar nosso discurso bonito contra o preconceito da teoria. Confesso que mesmo trabalhando nesta causa e desenvolvendo projetos como já compartilhei aqui recentemente, cada relato de familiar ou de profissional que eu recebo é um aprendizado novo, que levo para a minha vida pessoal e pública.

Além dos meus projetos de lei, entre eles a emissão da carteirinha gratuita de identificação para todo estado, a revisão da validade do laudo pericial e as diretrizes de inserção de pessoas com TEA no mercado de trabalho, tenho atuado na luta pelo cumprimento de direitos já garantidos por lei, a começar pelo acesso à educação e aos tratamentos de saúde. 

Em muitos casos, a judicialização tem sido o único caminho para soluções menos demoradas e mais efetivas para que o respeito, a dignidade e a inclusão não sejam pautas de um dia só.

JORNAL A CIDADE 2 DE ABRIL DE 20200