terça-feira, 26 de abril de 2022

AUTISMO: A INCLUSÃO AINDA É UTOPIA

O que sente uma mãe ou um pai de um filho com Transtorno do Espectro Autista (TEA)? Medo, insegurança, desespero, esgotamento, entre tantos sentimentos. 

Qualquer pessoa de bom senso sabe que uma das condições que nos define como seres humanos é o sentimento de grupo e, portanto, também a empatia. Porém, não basta defender o discurso politicamente correto sobre inclusão. É preciso garantir condições de inclusão.

Em um ano como deputado estadual desenvolvi vários projetos de lei e destinei recursos para ampliar o atendimento e promover mais dignidade às pessoas com autismo e os seus familiares. São alguns passos decisivos para uma caminhada que é longa. 

Confesso que quanto mais escuto os desabafos dos pais e as informações dos especialistas, mais tenho convicção de que precisamos encarar esse desafio crescente de maneira mais séria, incisiva e parar de romantizar a inclusão. Caso contrário, continuará no campo da utopia. 

É evidente que queremos e temos o dever legal e humanitário de lutar pela inclusão, mas passou da hora de deixar o blablabá de lado e ir para a prática. Fiz e darei andamento aos meus projetos de lei que definem regras para a contratação de pessoas com TEA nos setores público e privado. Felizmente algumas empresas já abriram as portas para essa demanda. Mas, se a crianças autistas não tiverem acesso desde cedo a uma rede de atendimento público estruturada, que autonomia desenvolverão? Quais condições terão de ingressar no mercado mais tarde?

Revisitei um artigo que escrevi ainda bem jovem em meu blog, em 2016, quando fazia essa reflexão, e pasmem: ele está mais atual que nunca. À época defendia um modelo inclusivo, a chamada “Clínica Escola”, com um sistema que integrasse no mesmo espaço diversos profissionais envolvidos no tratamento e na educação dos autistas, ajudando as famílias e os autistas nos tratamentos de saúde, nas atividades terapêuticas, na socialização, no desenvolvimento das habilidades e no aprendizado, respeitando as características de cada um.

É dessa inclusão que precisamos e não de demagogia. Essa inclusão verdadeira requer investimentos e há recursos públicos para isso! Requer visão humana do gestor público também. Requer empatia e desejo de encontrar soluções porque problemas os familiares já enfrentam e não são poucos. 

É possível sim ofertar estrutura especializada para autistas com professores treinados, fonoaudiólogos, psicólogos, psiquiatras, pedagogos, neuropediatra, nutricionistas, fisioterapeutas, além de práticas como equoterapia, natação, cinema para autistas, terapia ocupacional, terapias comportamentais, entre outras ações. É disso que o autista precisa e não ser tratado como mais um na fila, a espera de vaga, ou inserido em locais que se assemelham muito mais a um depósito de pessoas do que um centro de atendimento.

Vale lembrar que o tratamento é obrigação do estado e que Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) garante o direito à educação regular e tratamento médico às crianças e adolescentes especiais. 

Não por acaso muitas famílias travam batalhas judiciais com órgãos públicos em busca de tratamentos, mas essas soluções são pontuais e não substituem a necessidade de políticas públicas e investimentos para os atendimentos aos autistas.

Poderia finalizar esse artigo como números alarmantes da doença. Mas prefiro sugerir uma reflexão: se coloque por alguns instantes no lugar de um pai ou de uma mãe cujo filho acabou de receber o diagnóstico de TEA. 

Além do impacto emocional, onde encontrarão respostas para as perguntas inevitáveis: O que vou fazer? Como vou conseguir o dinheiro para o tratamento? E o futuro do meu filho quando eu já não estiver mais aqui?


JORNAL A CIDADE - 29 DE JANEIRO DE 2022