domingo, 24 de novembro de 2019

O MODERNO ESTÁ VELHO


Há alguns anos se separava o que era antigo do que era moderno. Hoje essa expressão não é mais comum. Se antes essa distância se percebia facilmente como da máquina de escrever para o computador, ou do telefone fixo para o celular, hoje somos surpreendidos por algo novo ultrapassando o que seria moderno. Moderno está fora de uso. Nós mesmos nos ultrapassamos. E qual seria o termo para classificarmos algo à frente do que existe? 

Acredito que a melhor palavra é "atual". Se algo é atual é mais que moderno. E o futuro? Também terá que ser atual. Atual é o que funciona com o máximo de conhecimento e adequação social disponível. A internet é atual e nunca foi moderna, nunca esteve nos filmes de ficção. O ser humano entende e se adapta a novas tecnologias: independente da idade ninguém estranha um celular que abre portas ou mede pressão. 

A pergunta que faço é por que a atualidade que "domesticou" o ser humano quanto à tecnologia, não se vê no comportamento humano com outro ser humano, ou até na relação entre o Estado e o cidadão. Sim, de um lado a gente ainda vê racismo, vemos pessoas que se envergonham do próprio corpo, homens que batem em mulher. E quanto ao Estado vemos piorar a qualidade nos serviços e piorar a própria relação com seu cliente e contribuinte. 

O que temos é atual, mas o que somos é ultrapassado. 

No Brasil este paradigma é mais evidente. Existe uma tecnologia atual na medicina, mas também filas de um ano para exame de ressonância. Temos indústria e caminhões atuais, mas um dos fretes mais caros do mundo. O Brasil é um país caro e o brasileiro sai da faculdade sem cultura e paga caro shows com músicas sem letras e melodias repetitivas. Alunos agridem professores, centenas de policiais são assassinados por ano. Mulheres são assassinadas por serem mulheres o que motivou a criação de lei especial para tipificar o que se chama de feminicídio. 

O Poder Público? Mal consegue podar uma árvore, tapar buracos ou sinalizar o trânsito. Logo a maioria dos carros serão elétricos e não terão motoristas, o que diminuirá acidentes.  Isso  será atual, mas nós ainda ultrapassados.

Murilo Félix
murilofelix@gvmail.br

Administrador de Empresas pela FGV-SP
Ciência Política e Investimentos em Países Emergentes, Harvard, EUA
Administração Financeira e Marketing pela HEC Montréal, Canadá

Artigo no Jornal Primeira Página, Página 3, São Carlos-SP. 01/10/2017

OBRIGADO POR TUDO, TIA CLEO


Eu me lembro de quando estudava no Colégio Acadêmico, no ISCA. Desde a 1ª série a tia Cléo era nossa professora de artes, minha e do meu irmão, Maurício. Ela gostava muito da gente, e nós, dela. Desde sempre já queria nos incentivar a aprender mais, a nos preparar para a vida adulta. Dizia ela que éramos criativos, inteligentes, a gente só precisava de um "empurrãozinho". Eu era mais extrovertido, daí ela falava "o Murilo gosta de falar viu", eu me lembro muito disso: uma professora que tratava dos seus alunos como filhos.


Mesmo depois de muitos anos, de vez em quando a gente se encontrava quando ela nos visitava na nossa empresa. A última visita foi há duas semanas, quando ela falou com meu irmão, Maurício. Eu aprendi muito com a tia Cleo, não só em artes, mas também como pessoa. Querida Cleonice Mercuri Quiterio, nossa Tia Cléo, vá com Deus, durma em paz. A todos os seus familiares, deixo aqui os nossos sentimentos em nome de todos da família Félix.




MINHA GATA NINA E O SIGNIFICADO DE EMPATIA

Minha gata Nina tem algo que falta em muitas pessoas: Empatia. Costumo trabalhar até tarde, quando chego em casa ela já aparece ali na porta, fica passando pela minha perna, faz questão de encostar em mim. Tem gente que diz que gato faz isso porque gosta de carinho, pode ser. Mas a Nina eu percebo que faz também por outro motivo, ela faz porque percebe que eu gosto disso também. Tem pessoas que falam que gatos são animais solitários, desconfiados, será? Quando chego em casa à noite e ainda me arrisco a trabalhar, a Nina aparece, já se encosta como alguém que quer me dar um conselho: "não desista, você escolheu o que quer, então não recue em hipótese alguma, eu estou aqui", ela diz isso com o olhar. Incrível, quantas palavras, frases, conselhos são ditos com apenas um olhar?

E quantos olhares um gato pode dar a você? Quantos conselhos? Entre tantos olhares, este é o que mais me cativa: "não desista, siga em frente, eu estou aqui". Eu trabalho muito, descobri que sou feliz assim, faço o que gosto e tenho o apoio de quem eu gosto: minha família, minha esposa, minha filha, nossos animais. Quando estou em casa trabalhando, eles estão comigo. Quanto à Nina, ela é aquela que tem acesso total à casa, sobe e desce muros e telhados, mas à noite faz questão de estar ao nosso lado, ali, presente. Ela também já descobriu o que lhe faz feliz, um instante que vale por toda a vida: ficar com a gente. Subir nosso ânimo quando precisamos. Empatia, está aí uma palavra cujo o significado muita gente não sabe e um gato pode ensinar.


terça-feira, 5 de novembro de 2019

BARBE: A GATA MÃE ABANDONADA QUE ADOTOU FILHOTES TAMBÉM ABANDONADOS

Ela deu à luz dia 02 de outubro de 2019, dentro de uma churrasqueira em uma chácara aqui em Limeira-SP. Nasceram 6. As pessoas que ali moravam nunca haviam visto essa gatinha antes, ela foi para lá procurando um lugar seguro, estava muito magra e com fome. A gente recebeu a ligação e já foi logo socorrer. A gata mãe foi apelidada de Barbe (em referência à palavra "barbecue", churrasco em inglês, já que deu à luz em uma churrasqueira). 
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Três deles tiveram os cordões umbilicais emaranhados, causando grande dano ao umbigo: um dos filhotes perdeu muito sangue e faleceu, outro sofreu uma ruptura na barriga. Era muito grave. Meu irmão Maurício correu, levou todos à veterinária no sábado à noite. Entre eles, um tinha menos risco, o que necessitava era cuidado e atenção. A veterinária disse que seria difícil a sobrevivência do outro mais ferido. Mas quanto maior a dificuldade, mais a gente se apegou ao filhote que lutava para viver.
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Na noite seguinte, 5 horas da manhã, corremos à veterinária novamente, o outro estava sangrando, foi feita uma cirurgia de emergência para tentar costurar o umbigo dele. Demos antibiótico a ele; meu irmão passou duas noites dando leitinho próprio para filhotes de gato, durante o dia a gente se revezava. Ele não podia ficar junto com a mãe para ela não mexer em seus pontos. Ficávamos com ele dia e noite. A história se espalhou. Aquele filhotinho comoveu muitos amigos. A veterinária disse que era preciso sobreviver 4 dias. Que as chances eram de menos de 10%. Aquele filhote entrou em nossa família. A namorada de meu irmão, Cláudia, também agrônoma, já havia dito: esse é o nosso gatinho, ficará conosco. Os outros 4 filhotes mamavam na mãe que olhava triste a nossa luta pelo minúsculo mas combativo filhote. Quarto dia, todos felizes, ele vai sobreviver. As horas estão passando. Ele começou a ter sepsia. Chorava, e fazia a gente chorar. A respiração foi indo embora. Por algumas horas meu irmão ficou com ele nas mãos. Foi assim até o filhote parar de respirar. A gata, mãe, parece que sabia o que tinha acontecido. Ela ainda tinha 4 filhotes pra cuidar. Parecia que a história terminava ali. Não terminou.
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Tem coisas que acontecem na vida e fazem a gente acreditar em milagres e destinos. Em uma segunda-feira, um menino correu à Câmara Municipal, levou consigo três gatos filhotes que ele encontrou em uma caixa jogada no lixo, lacrada com fita, sem mãe. Estavam ali para morrer. Minha mãe é vereadora, não pensou duas vezes, levou os filhotes para casa. A gata que havia perdido 2 filhotes conheceu outros 3, estes sem mãe, abandonados. Na hora, ela os adotou. Perdemos dois filhotes pelos quais fizemos o que se podia fazer. Fomos presenteados com outras 3 vidas para cuidar. A gata mãe está bem fraquinha ainda, mas amamenta agora 7 filhotes que precisam muito dela. Em breve eles estarão para adoção, para alegrar outras famílias. Eles são animais, mas têm histórias como a gente. Histórias que fazem parte da gente.