quarta-feira, 7 de agosto de 2019

PRECISO FALAR SOBRE MULHER

Hoje não é dia da mulher. Não é dia das mães também. Mas talvez por isso mesmo hoje seja apropriado para falar sobre mulheres; falo de algo importante para todos nós, importante para nossos filhos.

A GloboNews divulgou hoje (07/08/2019) sobre o aumento do feminicídio no Estado de São Paulo, houve um crescimento de 44% no primeiro semestre de 2019. Até março deste ano, conforme O Globo, o país teve mais de 200 casos confirmados. Já os demais crimes violentos tiveram uma redução. Como se explica isso? Mulheres têm mais consciência da lei e se resguardam? Pode ser? Não. Cada vez mais vemos mulheres serem assassinadas pelo marido, vemos casos em que homens tratam mulheres como objeto sexual, assim como na Copa do Mundo FIFA 2018, lembram? A atitude machista, talvez narcísica, de brasileiros foram vistas pelo mundo todo. Hoje não é dia da mulher. Talvez seja hoje o melhor dia para falar sobre isso.

Pessoas estão deixando de lado o pensamento coletivo, não entendem que o seu direito se limita ao ponto de onde o direito do outro começa. Estamos nos transformando em uma sociedade de narcisistas, onde o que importa é o nosso reflexo, a nossa imagem, sendo difícil para alguns homens compreenderem os direitos das mulheres. Para Freud, o "Narcisismo das Pequenas Diferenças", países criam códigos que inibem as nossas agressividades, nossos egos. No Brasil de hoje, no entanto, as leis nos papéis não são de fato as leis nas ruas. Aí, o desrespeito às mulheres, onde seus companheiros se vêem acima delas, acima da lei.

Durante a Copa do Mundo da FIFA de 2018, algumas cenas ficaram registradas porque foram divulgadas em diversas partes do mundo e principalmente no Brasil. Destaco aquelas imagens de homens brasileiros ridicularizando mulheres russas, desrespeitando repórteres e aeromoças. Essas imagens não passaram despercebidas, tiveram sua importância. Elas mostraram para nós uma realidade. Lá não era dia algum da mulher.

Mais uma vez, o tema se mantém como manchete nos noticiários, a falta de respeito em relação a elas; hoje também não é o dia da mulher. Não quero nesse texto levantar e ressaltar as diferenças de homens e mulheres, nem quem é mais isso ou aquilo. Quero ressaltar a indignação que todo homem, toda mulher e toda pessoa teve, ou deveria ter, ao ver o ser humano ridicularizar outro, e nesse caso apenas pelo seu sexo. Tenho percebido que apesar do avanço tecnológico e no comportamento social ainda certos homens se comportam como há milhares de anos. Lá na Copa, será que alguém achou bonito aqueles homens usarem palavrões em português que as russas não sabiam o significado, para eles se divertirem? Eles acharam isso bonito? Eles não se recordaram das suas irmãs, das suas mães. Hoje não é dia da mulher. Mas hoje é um bom dia pra um homem se colocar no lugar da mulher. É o que faço agora nesse texto.

Foi me colocando no lugar de uma mulher que eu percebi sua grandeza e por exemplo a grande responsabilidade de decidir quando ter filhos, não é um plano só dela, mas é um plano da sociedade, é um plano da humanidade, daquela família. Mas o corpo é dela! Ela decide, mas quem disse que ela decide por ela apenas? Foi me colocando no lugar de uma mulher que percebi que as decisões de uma mulher nunca são apenas por ela. Mas já os homens agem apenas por eles nesses momentos. Eles estão apenas provando a sua ausência maior de empatia.

O descaso avança para a própria saúde da mulher, afinal quantos centros de saúde, especializados, na saúde da mulher existem na rede pública brasileira? Meia dúzia, talvez. Não me refiro à saúde básica ou a maternidade. Falo de endometriose, de câncer de mama, de câncer no colo do útero, de mulheres com dificuldade para engravidar que não têm dinheiro para pagar tratamentos e outras situações. Então isso dói quando me coloco no lugar das mulheres, mas também no meu lugar de homem, de ser humano. Mas as mulheres são fortes, seja no trabalho, na família; mulheres que resgatam pessoas, que resgatam animais, que cuidam dos filhos, o que não nos faltam são exemplos. Hoje não é dia da mulher. Hoje é dia como outro dia qualquer para refletirmos. Quando será o dia que iremos pensar nos outros como enxergamos nós mesmos? Dia em que o ego dará espaço para a empatia?

Hoje não é dia da mulher. Talvez não seja dia de nada. Acho que estamos precisando do DIA DO NADA. Para pensarmos em tudo. Não é dia da mulher. Mas é dia de sermos o que devemos ser todos os dias. De tudo que uma mulher gostaria de que viesse dos homens, talvez a melhor palavra seja RESPEITO. Respeito é o que faz a relação entre patrões e empregados. Respeito é o que faz um país investir na formação dos seus cidadãos. Respeito é o que mantém uma nação em pé. Respeito é que o mantém uma família em pé. Respeito é o mínimo que um homem deve a uma mulher. Eu respeito minha mãe, minha esposa, minha filha, as quais amo muito. Respeito também as demais mulheres. Então hoje não é dia das mulheres. Eu quero sugerir que hoje seja o dia do respeito, amanhã também e assim por diante.

Murilo Félix
Administração de Empresas pela FGV-SP
Ciência Política e Investimentos em Países Emergentes na Harvard, EUA
Administração Financeira e Marketing pela HEC Montréal, Canadá