Outro dia ouvi a
frase enquanto assistia o filme Crash – No Limite (2004): “Você pensa que
conhece a si mesmo, você não faz ideia”, disse o personagem oficial Ryan a ao
oficial Hanson. A gente pensa que se conhece até passar por algumas situações
na vida. É preciso que passemos pelos traumas mais difíceis para compreender
melhor quem somos. E compreender que nossa história se entrelaça com a história
de outras pessoas. Sim, e é a convivência com os outros que que completa quem
somos. Pessoas nos fazem mal ou bem, mais isso depende fundamentalmente do que
permitimos que elas nos façam. Também perdemos tempo precioso da vida esperando
que os outros sejam o que não são. A vida é assim. O ser humano, com o tempo,
mudou muito em relação a muitas coisas, mas a verdade é que o homem é o
"lobo do homem", já disse Thomas Hobbes. Com o tempo as pessoas
parecem saber menos o que realmente importa: os filhos, a família, a sua
própria vida e seus princípios. Hoje vivemos em uma perda cotidiana do sentido
da dignidade humana em um mundo que cultiva a mediocridade. As pessoas se
preocupam com a foto que irão postar nas redes sociais, mas não com a
finalidade do seu trabalho, com seu engrandecimento pessoal ou dos outros.
Ficamos distantes
de nós mesmos tanto que as amizades também se tornam distantes. O problema
somos nós, não os outros. Passamos do ponto de equilíbrio, uma "linha"
imaginária que separa o fútil do importante. Daí tudo ficou normal. Hoje se
aceita muito do que antes era errado e nos limitamos por muito que um dia não
terá importância alguma. Em certos casos foi para o bem como a liberdade
religiosa, a democracia e o combate ao racismo e a qualquer tipo de segregação.
Mas cresceu também a superproteção aos filhos, a ideia de que o Estado tem que
dar tudo a todos, e que felicidade é ter dinheiro para gastar. O final não é
felicidade, é vazio. A felicidade se tornou uma palavra de difícil definição.
Perdemos o equilíbrio individual e coletivo.
Rubem Alves
escreveu que a vida é feita de perdas. Lembrou que “tudo flui; nada permanece”
(Heráclito). Eu mesmo fiquei feliz outro dia em ver fotos com meu irmão e minha
família no passado. Mas essa alegria já não tenho mais, o tempo passou, aquela
felicidade ficou na lembrança. “Há, assim, um trágico que não está ligado a
"eventos trágicos". Está ligado à realidade da própria vida. Tudo o
que amamos, tudo que é belo, passa”. Assim fomos passando. Mudando com o tempo,
errando, aprendendo, errando de novo. A verdade é que agora pela ausência de
valores, estamos perdidos. Talvez seja coisa dos mais velhos reclamar dessa
forma, mas para os antigos os objetivos eram mais claros. Hoje ficamos todos
sem saber o que fazer ao certo com tanta coisa para fazer e tantas
oportunidades. Acho que estou ficando velho.
Murilo Félix
Administração de
Empresas pela FGV-SP
Ciência Política
e Investimentos em Países Emergentes na Harvard, EUA
Administração
Financeira e Marketing pela HEC Montréal, Canadá
Empresário e produtor
de Plantas em São Carlos e Limeira
murilofelix@gvmail.br
A Árvore Velha no Confluence - Claude Monet |