domingo, 26 de novembro de 2017

ESTOU FICANDO VELHO

Outro dia ouvi a frase enquanto assistia o filme Crash – No Limite (2004): “Você pensa que conhece a si mesmo, você não faz ideia”, disse o personagem oficial Ryan a ao oficial Hanson. A gente pensa que se conhece até passar por algumas situações na vida. É preciso que passemos pelos traumas mais difíceis para compreender melhor quem somos. E compreender que nossa história se entrelaça com a história de outras pessoas. Sim, e é a convivência com os outros que que completa quem somos. Pessoas nos fazem mal ou bem, mais isso depende fundamentalmente do que permitimos que elas nos façam. Também perdemos tempo precioso da vida esperando que os outros sejam o que não são. A vida é assim. O ser humano, com o tempo, mudou muito em relação a muitas coisas, mas a verdade é que o homem é o "lobo do homem", já disse Thomas Hobbes. Com o tempo as pessoas parecem saber menos o que realmente importa: os filhos, a família, a sua própria vida e seus princípios. Hoje vivemos em uma perda cotidiana do sentido da dignidade humana em um mundo que cultiva a mediocridade. As pessoas se preocupam com a foto que irão postar nas redes sociais, mas não com a finalidade do seu trabalho, com seu engrandecimento pessoal ou dos outros.

Ficamos distantes de nós mesmos tanto que as amizades também se tornam distantes. O problema somos nós, não os outros. Passamos do ponto de equilíbrio, uma "linha" imaginária que separa o fútil do importante. Daí tudo ficou normal. Hoje se aceita muito do que antes era errado e nos limitamos por muito que um dia não terá importância alguma. Em certos casos foi para o bem como a liberdade religiosa, a democracia e o combate ao racismo e a qualquer tipo de segregação. Mas cresceu também a superproteção aos filhos, a ideia de que o Estado tem que dar tudo a todos, e que felicidade é ter dinheiro para gastar. O final não é felicidade, é vazio. A felicidade se tornou uma palavra de difícil definição. Perdemos o equilíbrio individual e coletivo.

Rubem Alves escreveu que a vida é feita de perdas. Lembrou que “tudo flui; nada permanece” (Heráclito). Eu mesmo fiquei feliz outro dia em ver fotos com meu irmão e minha família no passado. Mas essa alegria já não tenho mais, o tempo passou, aquela felicidade ficou na lembrança. “Há, assim, um trágico que não está ligado a "eventos trágicos". Está ligado à realidade da própria vida. Tudo o que amamos, tudo que é belo, passa”. Assim fomos passando. Mudando com o tempo, errando, aprendendo, errando de novo. A verdade é que agora pela ausência de valores, estamos perdidos. Talvez seja coisa dos mais velhos reclamar dessa forma, mas para os antigos os objetivos eram mais claros. Hoje ficamos todos sem saber o que fazer ao certo com tanta coisa para fazer e tantas oportunidades. Acho que estou ficando velho.


Murilo Félix

Administração de Empresas pela FGV-SP
Ciência Política e Investimentos em Países Emergentes na Harvard, EUA
Administração Financeira e Marketing pela HEC Montréal, Canadá
Empresário e produtor de Plantas em São Carlos e Limeira


murilofelix@gvmail.br

A Árvore Velha no Confluence - Claude Monet