Murilo Felix *
Um
dos tentáculos mais atrozes do racismo à brasileira é a discriminação de
animais. Acreditem: muita gente rejeita um pet preto. Os gatos sofrem
com a lenda medieval de que dão azar. Mas os cães também são
discriminados, pelo mesmo preconceito de cor que segrega pessoas negras.
No
Facebook, fiz a pergunta “Você adotaria um vira-lata preto? São os que
mais sofrem maus-tratos.” As curtidas passaram de duas mil, além de 102
compartilhamentos e 1.700 comentários. Claro, não apareceu ninguém para
defender publicamente essa forma odiosa de racismo que atinge os
animais. As respostas majoritárias dos que, sim, adotaram ou adotariam
cachorros pretos, mostraram, no entanto, que ainda é forte e bonito o
senso de benevolência que considera todo ser vivo digno e merecedor da
fraternidade que deveria inspirar a convivência dos homens entre si e
com seus animais de estimação.
Tenho
dificuldades de compreender como um país tão miscigenado como o Brasil,
em que grande parte da população é negra ou parda, mas principalmente
mestiça, pode ter um índice tão alto de racismo. Curiosamente, as
pesquisas mostram que a maioria das pessoas reconhece que há
preconceito, mas não da parte delas. Fato é que a toda hora vemos
episódios de injúria racial no dia a dia dos brasileiros. Atendentes em
lojas, restaurantes, etc., usuários de serviços públicos, jogadores de
futebol, são frequentes vítimas de manifestações que desqualificam o ser
humano.
Felizmente,
os movimentos antirracistas estão tendo voz, as denúncias estão
aumentando e dispomos de uma legislação enérgica, e repressora desses
atos. Ainda falta, no entanto, uma revolução nos sentimentos, uma onda
altruísta que varra de vez o preconceito de uns contra outros, e todos
sejam tratados pelo que são e jamais pela cor da pele.
Tal
movimento deve se estender aos animais. Gostaria que essas pessoas que
torcem o nariz para um pet preto explicassem o que torna eles tão
indesejáveis. O que distingue, em qualquer critério que se use, um
cachorro preto de um cachorro branco? Um é mais carinhoso, inocente,
brincalhão do que o outro?
* Deputado estadual