segunda-feira, 26 de agosto de 2019

QUEM SOMOS, SE OLHARMOS DE PERTO


Só tem uma vida que conhecemos bem: a nossa. Seres humanos são diferentes entre si. É comum julgarmos os outros, dizermos o que esses deveriam fazer, termos facilmente soluções para a vida alheia. Isso porque é mais fácil sabermos o que fazer quando não somos nós que vivemos o que esse ou aquele vive. Assim é fácil, difícil é se colocar no lugar da outra pessoa. Rubem Alves escreveu que está na hora de praticarmos a "escutatória", falar menos e escutar mais, entender melhor seus sentimentos, conhecimentos, momentos. Isso chama-se empatia, capacidade de se colocar no lugar de uma pessoa que não seja você. Leandro Karnal certa vez a explicou: "pressupõe uma vontade de entender o outro, tirar um pouco a cegueira sobre o outro e aceitar, discutir e incorporar valores que pertençam ao outro".

Dalai Lama estava certo quando disse “ao falar você apenas repete o que já sabe, mas ao ouvir, talvez possa aprender alguma coisa". Critiquei uma pessoa e formei uma opinião sobre ela cheio de certeza. Até que resolvi ouvir o seu lado e pude conhecer melhor o que ela estava vivendo. Tomei uma aula só de ouvir. Apesar da minha idade, compreendi que não é possível você saber exatamente o que o outro está passando se não se colocar no lugar dele. Acho que isso é cristianismo. Hoje vemos pessoas criticando, até ofendendo, tendo fáceis opiniões sobre tudo. E não percebemos que isso afasta as pessoas, mesmo que estejam "conectadas", e tornamos a vida mais descartável ou pelo menos o que pensamos dela. Precisamos todos entender o conceito de alteridade (do latim alteritas): somos dependentes um do outro, não há como se pensar em um indivíduo sem aceitar a contribuição dos outros na sua formação, não é assim que muita gente pensa.

Parece que estamos nos digladiando mentalmente, pois temos certeza de que estamos certos do que pensamos sobre o próximo. Estamos errados. Então quero colocar duas questões para refletirmos melhor sobre isso: uma é que normalmente as pessoas que menos sabem são as com maior convicção de que estão certas, a outra é um mandamento pregado por Cristo, fazer ao próximo o que você faz a você mesmo (ame ao próximo como a ti mesmo). Isso fez diferença no meu dia de hoje.


Escrito em 20/02/2018.


Murilo Felix

Administrador de Empresas pela FGV-SP
Ciência Política e Investimentos em Países Emergentes na Harvard, EUA
Administração Financeira e Marketing pela HEC Montréal, Canadá
Empresário e produtor de Plantas


murilofelix@gvmail.br



Referências:

sábado, 24 de agosto de 2019

MAIS DE 36 MILHÕES DO TRANSPORTE DE LIMEIRA VÃO PARA EMPRESA DE AMERICANA E PREFEITURA QUER CONTRATAR EMPRESA DE ÔNIBUS SEM CONCORRÊNCIA


Caos no transporte coletivo em Limeira. Prefeitura contratou emergencialmente uma empresa, a JTP, depois fez intervenção na Limeirense 4 dias antes de terminar o contrato com ela. Mesmo sanados todos os motivos para a intervenção, ela é prorrogada por 7 vezes, mesmo tendo outra empresa contratada. O interventor autorizou a transferência de mais de 36 milhões de reais para outra empresa a título de pagamentos. Por fim a prefeitura tenta fazer outra contratação emergencial, que foi barrada pelo Tribunal de Contas do Estado.


O transporte coletivo em Limeira está caminhando para o caos. A população que usa é a mais prejudicada e será ainda mais, não só pelos ônibus ruins, mas também pela enorme indenização que a prefeitura pode ser condenada a pagar à Viação Limeirense, além do grande prejuízo que a prefeitura está tendo, em virtude da intervenção, pagando e assistindo o dinheiro ir para outras empresas. A empresa Princesa Tecelã foi a que mais ganhou com a intervenção. Ela é de Americana, é dona da Viação Limeirense e faz parte de um grupo que tem a financeira Caruana e Susantur, sendo que esta opera em outros contratos emergenciais.

TCE DETERMINA SUSPENSÃO
O Tribunal de Contas do Estado determinou a suspensão do edital da contratação que a prefeitura pretendia fazer. Ela queria contratar uma empresa de ônibus sem licitação, através de um edital, o qual sofreu representação perante o referido Tribunal, diante da possibilidade de favorecimento a alguma empresa, além de outras supostas irregularidades. Contratação emergencial só é permitida, como o próprio nome diz, em situações imprevisíveis, calamidades e emergências que não se podem prever. Mas como o prefeito vai alegar que não previu essa situação depois de mais de dois anos de intervenção? Mesmo assim, o prefeito anunciou que vai contratar empresas de ônibus até mesmo sem publicar nenhum edital e não vai esperar o julgamento do Tribunal de Contas. Como se a decisão desse órgão que fiscaliza os seus atos não tivesse importância.

A prefeitura interveio na Viação Limeirense, esta ingressou com ação na Justiça pedindo anulação e indenização. A lei diz que a intervenção só será legal enquanto existir o motivo pelo qual houve a intervenção; e ela só pode acontecer enquanto existir o contrato. Não fosse assim poderia o poder público intervir em qualquer empresa particular apenas argumentando que é de interesse público. Os motivos alegados pela prefeitura foram a greve e a falta de dados. A greve não existiu, e quanto aos dados, a prefeitura obteve logo que teve acesso administrativo à empresa.

SUPOSTO ENRIQUECIMENTO ILÍCITO
Os motivos alegados não existem mais. A intervenção teria que ter terminado. Portanto, dizem os advogados que houve ilegalidade na intervenção desde o início e, se não foi ilegal no início, é ilegal agora. Intervenção é para a prefeitura entrar, resolver o que tem que resolver e sair imediatamente. Acontece também que o contrato acabou apenas 4 dias depois que ocorreu a intervenção. A prefeitura anunciou na época que queria que a empresa prorrogasse o contrato por mais algum tempo. Mas a empresa respondeu que só aceitaria se fosse pelo prazo que diz o contrato, oito anos. A prefeitura queria por menos. Com a negativa da empresa houve a intervenção. Ou seja, se a Viação Limeirense tivesse aceitado a prorrogação por um tempo menor a intervenção não teria acontecido. A intervenção soa como coação contra a empresa. Mas, de qualquer modo, acabou beneficiando a Limeirense, que não teria mais direito ao serviço e uma outra empresa, a Princesa Tecelã, que é de Americana. Isso porque com a intervenção a prefeitura de Limeira, através de seu interventor, transferiu mais de 36 milhões de reais à empresa de Americana. Isso quer dizer que a prefeitura poderá ter que indenizar a Viação Limeirense em mais de 100 milhões de reais se a intervenção for considerada ilegal, os responsáveis pelo transporte podem ser ainda condenados pelo enriquecimento ilícito da mesma empresa, se constatado que a intervenção favoreceu a empresa que não teria mais possibilidade de operar o serviço já que, afinal, o contrato de oito anos acabou.

A EMPRESA QUE FOI CONTRATADA E ESQUECIDA
Além disso, foi descoberto que a prefeitura havia contratado outra empresa por contratação emergencial: a JTP. Isso foi antes da intervenção e apenas 7 dias antes do contrato acabar. Assim, a prefeitura contratou emergencialmente a JTP, assinou o contrato em 11 de abril de 2017. A empresa iniciou os trabalhos, contratou pessoas, manteve a frota de ônibus e a garagem, inclusive com bombas de combustíveis, no jardim Vanessa, à disposição da prefeitura, até por força do próprio contrato assinado pelo Secretário de Transportes, por quase dois anos até dezembro de 2018.

Contudo, em relação à intervenção, três dias depois de ter contratado a JTP, a prefeitura interveio na Viação Limeirense, em 14 de abril de 2017, isso quatro dias antes do contrato da Viação Limeirense terminar (e já tendo outra empresa, a JTP, contratada)! O contrato com a empresa Limeirense acabou em 18 de abril do mesmo ano. Mesmo com outra empresa contratada a prefeitura seguiu com a intervenção, sendo que o decreto afirmava que seria por apenas 60 dias. No entanto, apesar de não ter mais os motivos para a intervenção e de TER OUTRA EMPRESA JÁ CONTRATADA (a JTP), a prefeitura prorrogou por mais 7 vezes a intervenção, por mais de dois anos, aumentando ainda mais os prejuízos. Isso porque com a CONTRATADA JTP a prefeitura não precisaria desembolsar mais dinheiro como teve que fazer para sustentar a Limeirense. Afinal é isso que acontece hoje: a prefeitura praticamente ajuda a sustentar a Viação Limeirense e por tabela outra empresa que nem é de Limeira, a Princesa Tecelã.

Entre os motoristas e cobradores a situação também é grave porque há denúncias de que a prefeitura havia assumido todos os direitos trabalhistas e agora não reconhece isso.

Um enorme problema, um enorme prejuízo para a cidade. Mas a maior pergunta que se deve fazer é por que o prefeito quis trazer esse problema para a prefeitura se faltavam apenas 4 dias para terminar o contrato? E por que fez isso se já tinha outra empresa contratada? Por que preferiu o prefeito gastar tanto dinheiro com uma empresa que já sabia ser problema? Por que aceitou ter que pagar a Limeirense e, por tabela, a outras empresas do grupo? Foram pagos mais de 36 milhões de reais, sendo que já tinha uma empresa contratada QUE SÓ INVESTIRIA OS RECURSOS REPASSADOS PELA PREFEITURA EM LIMEIRA, o contrário do que é hoje.

RISCO DE INDENIZAÇÃO MILIONÁRIA
Se com a intervenção quem está sendo beneficiada é a Princesa Tecelã de Americana, se houver a contratação sem licitação, como quer o prefeito agora, quem ganhará será a empresa que "pegar o serviço" uma vez que não terá que disputar com outros concorrentes. Mas como o prefeito e o Secretário vão justificar uma nova contratação emergencial se já foi contratada uma empresa nesta mesma modalidade há mais de dois anos? E como vão ignorar as recomendações do Tribunal de Contas do Estado e assim correr o risco dessa contratação ser considerada ilegal gerando indenizações e paralisação do transporte e, aí sim, deixar milhares de pessoas nas ruas?
Na Câmara Municipal existem duas investigações sobre tudo isso. Parte do que foi relatado aqui já foi confirmado em depoimentos. Ao que tudo indica a situação do transporte coletivo em Limeira caminha para o caos.

Constância Felix



segunda-feira, 12 de agosto de 2019

MEU PRIMEIRO DIA DOS PAIS COMO PAI


Estou postando hoje. É verdade que deveria ter postado ontem, mas eu não tive tempo de escrever o que realmente estava no meu coração. Mesmo porque isso não é algo que se escreve em palavras jogadas, sem pensar. Eu escrevia, achava que não era suficiente para descrever o que sinto, então voltava a escrever do início. Fiquei pensando primeiro em qual foto colocar. Aqui está, meu pai e minha filha. Quer foto melhor pra esse momento? Não tem.

Meu pai, quando eu era pequeno, tinha a preocupação de que eu tivesse prazer no trabalho e na leitura. Lembro de quando eu e meu irmão competíamos para ver quem lia "Menino Maluquinho" mais rápido. E a coleção Vagalume, vocês já leram? Lembro de quando meu pai me deu o primeiro: "A Ilha Perdida". Toda semana eu ganhava um gibi, Turma da Mônica. Vocês já leram tenho certeza, mas eu lia para tentar entender como meu pai entendia as coisas. Aliás, sempre fui assim, querendo ser um pouco do que ele sempre foi pra mim. Lembro ainda de quando eu ia na empresa tirar matinho das plantas, ou colocar terra nos saquinhos. Quando morei no Jd. Florença lá atrás, há muito tempo, ficava eu no feriado andando rua por rua pegando sementes de Pau-Brasil para meu pai e meu avô plantar.

Quando ele chegava à noite, porque chegava bem de noite, sempre trabalhando, em reuniões, sempre preocupado com a nossa empresa e com a cidade. Ele se preocupava com os problemas dos outros, eu percebia. Foi com ele que aprendi o significado da palavra "empatia", isso falta nas pessoas de hoje, isso meu pai sempre teve de sobra. Agora nasceu a Luísa. Durante os meses em que a Lu estava grávida, eu ficava pensando, que pai eu devo ser? De tanto pensar, cheguei a conclusão de que a melhor solução é ser como meu pai foi comigo. Todo dia eu penso: como ele faria isso? Como ele faria aquilo? Ele sempre com poucas palavras, depois percebi que ser assim é porque ele respeita as palavras e as pessoas. Ele não fala por falar, tudo o que ele fala é pensado, é em respeito a quem está ouvindo.

Eu sempre fui seguindo ele, ouvindo, aprendendo, as vezes errando, mas sempre tentando acertar. E de suas lições, a mais importante: hoje vejo que ele estava me ensinando como ser um pai de verdade. Assim espero ser com a Luísa. Obrigado pai.



Murilo Felix
Administração de Empresas pela FGV-SP
Ciência Política e Investimentos em Países Emergentes na Harvard, EUA
Administração Financeira e Marketing pela HEC Montréal, Canadá
Empresário e produtor de Plantas em Limeira e região.

Sílvio Felix e Luísa Felix