Em dezembro
de 2017 foi anunciado pelo jornal ‘The Wall Street Journal’, a possível venda
da Embraer SA para a norte-americana Boeing. A empresa brasileira é a terceira
maior fabricante de aviões comerciais do mundo e a única brasileira no ramo. A
Boeing não fabrica as categorias de aviões que a brasileira produz, aviões de médio
porte com até 100 lugares, e o crescente aumento da demanda, inclusive na China
justificam o interesse na aquisição da Embraer. Outra justificativa é que com a
fusão as duas trocarão conhecimento tecnológico e serão juntas um líder mundial
tanto no ramo de aviões de grande porte quanto de porte médio. Ocorre que a
geração de empregos e o estímulo à economia brasileira acontecem se há aumento
da indústria nacional, e há uma grande preocupação de que a Boeing faça o mesmo
que as empresas americanas fizeram no México. Lá houve a compra em massa de
montadoras e indústrias mexicanas, que em seguida foram fechadas dando espaço
basicamente apenas a companhias dos Estados Unidos, conforme noticiou a revista
‘Forbes’ em janeiro de 2015.
A Embraer
SA é uma das companhias mais importantes do país e não é só uma questão de
nacionalismo defender sua autonomia, como afirmou o Ministro da Defesa, Raul
Jungmann, é uma questão estratégica. Segundo ele, com o seu controle passando
para outro país, as decisões então ficam subordinadas a ele, como por exemplo
ao congresso americano. “Se o congresso americano decidir que não é de seu
interesse o investimento no reator nuclear que a marinha faz em parceria com a
Embraer, ele simplesmente pode suspendê-lo” (Jungmann em entrevista a GloboNews,
01/02/18). Há um risco alto com a aquisição da Embraer, e não podemos
simplesmente vendê-la pensando apenas no ganho que isso ocorreria na venda. O
lucro real é no longo prazo, este que deve ser analisado; o escritor americano
Napoleon Hill já dizia que a economia não respeita quem pretende dar sem
receber.
Mas o
Brasil tende a fazer negócios às avessas. A revista ‘The Economist’ em agosto
de 2012 escreveu que no Brasil o modelo é perigoso: com problemas não
resolvidos, vende-se barato, paga-se caro. Naquele momento se discutia a compra,
com preço acima do avaliado, pela Petrobrás da Refinaria americana de Pasadena
e o preço baixo, com poucos termos e obrigações, na concessão de aeroportos no
Brasil. Pelo jeito, se a aquisição da Embraer ocorrer nos moldes em que foi
anunciado, mais uma vez o Brasil dará fortes sinais de imaturidade como nação
econômica, o que já o faz em outras áreas institucionais. Estaremos andando
para trás.
Murilo
Félix
Administrador
de Empresas pela FGV-SP
Ciência Política
e Investimentos em Países Emergentes na Harvard, EUA
Administração
Financeira e Marketing pela HEC Montréal, Canadá
Empresário
e produtor de Plantas em São Carlos
murilofelix@gvmail.br