quarta-feira, 20 de junho de 2018

A ECONOMIA NÃO RESPEITA QUEM DÁ SEM RECEBER


Em dezembro de 2017 foi anunciado pelo jornal ‘The Wall Street Journal’, a possível venda da Embraer SA para a norte-americana Boeing. A empresa brasileira é a terceira maior fabricante de aviões comerciais do mundo e a única brasileira no ramo. A Boeing não fabrica as categorias de aviões que a brasileira produz, aviões de médio porte com até 100 lugares, e o crescente aumento da demanda, inclusive na China justificam o interesse na aquisição da Embraer. Outra justificativa é que com a fusão as duas trocarão conhecimento tecnológico e serão juntas um líder mundial tanto no ramo de aviões de grande porte quanto de porte médio. Ocorre que a geração de empregos e o estímulo à economia brasileira acontecem se há aumento da indústria nacional, e há uma grande preocupação de que a Boeing faça o mesmo que as empresas americanas fizeram no México. Lá houve a compra em massa de montadoras e indústrias mexicanas, que em seguida foram fechadas dando espaço basicamente apenas a companhias dos Estados Unidos, conforme noticiou a revista ‘Forbes’ em janeiro de 2015.

A Embraer SA é uma das companhias mais importantes do país e não é só uma questão de nacionalismo defender sua autonomia, como afirmou o Ministro da Defesa, Raul Jungmann, é uma questão estratégica. Segundo ele, com o seu controle passando para outro país, as decisões então ficam subordinadas a ele, como por exemplo ao congresso americano. “Se o congresso americano decidir que não é de seu interesse o investimento no reator nuclear que a marinha faz em parceria com a Embraer, ele simplesmente pode suspendê-lo” (Jungmann em entrevista a GloboNews, 01/02/18). Há um risco alto com a aquisição da Embraer, e não podemos simplesmente vendê-la pensando apenas no ganho que isso ocorreria na venda. O lucro real é no longo prazo, este que deve ser analisado; o escritor americano Napoleon Hill já dizia que a economia não respeita quem pretende dar sem receber.

Mas o Brasil tende a fazer negócios às avessas. A revista ‘The Economist’ em agosto de 2012 escreveu que no Brasil o modelo é perigoso: com problemas não resolvidos, vende-se barato, paga-se caro. Naquele momento se discutia a compra, com preço acima do avaliado, pela Petrobrás da Refinaria americana de Pasadena e o preço baixo, com poucos termos e obrigações, na concessão de aeroportos no Brasil. Pelo jeito, se a aquisição da Embraer ocorrer nos moldes em que foi anunciado, mais uma vez o Brasil dará fortes sinais de imaturidade como nação econômica, o que já o faz em outras áreas institucionais. Estaremos andando para trás.


Murilo Félix

Administrador de Empresas pela FGV-SP
Ciência Política e Investimentos em Países Emergentes na Harvard, EUA
Administração Financeira e Marketing pela HEC Montréal, Canadá
Empresário e produtor de Plantas em São Carlos

murilofelix@gvmail.br



segunda-feira, 14 de maio de 2018

O QUE FALTA É CORAGEM

Nessa semana assisti novamente a um filme do qual gosto muito, Perfume de Mulher (1992). Nele, o protagonista Coronel Frank Slade (Al Pacino) nos dá uma lição. Mesmo cego, convida uma mulher desconhecida pra dançar tango. Ela assustada hesita, preocupa-se em cometer um erro, ele então responde: “não há erros no tango, (...) não é como a vida”. Eles então dançam tão naturais como se houvessem treinado há tempos. A harmonia da música e a elegância dos dançarinos escondem de nós a dificuldade que é estar ali. Ainda mais para Slade, cego. No programa Britain’s Got Talent, Susan Boyle fez o mesmo; em uma plateia desacreditada, ela se superou ao cantar “I Dreamed a Dream” (Les Misérables). Muitas vezes passamos por momentos em que o caminho a ser seguido é o mais difícil. Em que além da vontade, da capacidade precisamos de coragem, foco. Pessoas que fazem isso ficaram no passado, a sociedade do bem-estar criou pessoas preocupadas com a imagem nas redes sociais, com a vestimenta que irão usar, mas com pouca coragem e vontade para tomar atitudes difíceis, com poucos ensinamentos para se tornarem relevantes naquilo que trabalham. Estamos construindo uma sociedade de pessoas vazias.

Fernando Sabino, jornalista e poeta brasileiro, escreveu: “De tudo ficaram três coisas, a certeza de que estamos começando, a certeza de que é preciso continuar, a certeza de que podemos ser interrompidos antes de terminar. Façamos da interrupção um caminho novo, da queda, um passo de dança, do medo uma escada, do sonho, uma ponte”. O que nos falta? A certeza de que podemos fazer um novo caminho. Quantas pessoas hoje teriam a coragem de Susan Boyle? Mas há uma esperança, fiquei sem palavras ao assistir “The Voice Kids Brasil” quando Claudia Zanetti cantou “Girl on Fire” com apenas 15 anos, surpreendeu a todos pela qualidade e coragem. Yasmin Giacomini, de apenas 10 anos, enfrentou a plateia, cantou e emocionou. São crianças, pessoas raras que desde jovem demonstraram coragem, algo que falta para tantos outros adultos de hoje em dia. São pessoas raras diante do tipo de gente que estamos formando em todo o país.

Em Perfume de Mulher, no discurso final, em defesa do amigo, Slade diz: “quando o galho quebra, o berço cai, (...), forjadores de homens, cuidado com os líderes que estamos produzindo. (...) Coragem, integridade. É disso que líderes deveriam ser feitos”. Talvez ao invés de começarmos a reclamar tanto de onde estamos, poderíamos pensar no que nos fez chegar até aqui. Falta de coragem, falta de vontade. O remédio, quase sempre amargo: preparar-se. Correr o risco, tomar a atitude. Afinal, se der certo, felicidade, se não, sabedoria. Fazer da queda, um passo de dança.


Murilo Félix

Administração de Empresas pela FGV-SP
Ciência Política e Investimentos em Países Emergentes na Harvard, EUA
Administração Financeira e Marketing pela HEC Montréal, Canadá
Empresário e produtor de Plantas em São Carlos

murilo@novojardim.com

Referências:





sábado, 17 de fevereiro de 2018

AS ARAUCÁRIAS QUE IDENTIFICAM SÃO CARLOS


A araucária é a árvore símbolo de São Carlos. Está na bandeira. Representa o inicio, a natureza, o ecossistema, mas também é história, cultura e valor. Sendo isso é nosso dever sua preservação. Especialistas dizem que ela está em extinção no município. De acordo com uma análise feita pela USP em 2012, a cada 10 mudas de araucárias plantadas em São Carlos, apenas quatro sobrevivem. Entre os fatores causadores está o aquecimento global, visto que ela é uma árvore de clima temperado, mas também somos culpados. Durante anos houve a exploração da madeira sem controle ambiental, em total desrespeito à legislação de proteção à espécie (aprovada em 2002 em São Carlos), incluindo corte e colheita do pinhão fora de época. Para acrescentar, com a expansão da cidade entre 1930 a 1990, araucárias perderam espaço para casas e asfalto.

Ela possui um ciclo lento. Para atingir a vida adulta demora entre 15 a 20 anos, só após dez anos depois de plantada que passa a produzir os pinhões. Foram milhares de anos para que ela pudesse se expandir pelo território de São Carlos. Mas apenas algumas décadas para reduzi-la à quase extinção. Dizia Winston Churchill: “Construir pode ser a tarefa lenta e difícil de anos. Destruir pode ser o ato impulsivo de um único dia”. Estava certo. Por vários anos demos pouco valor àquilo que afirma a nossa bandeira. Pode ser que o tenhamos feito com o argumento de garantir a nossa sobrevivência, afinal, as cidades precisam crescer. Mas a verdade é que a natureza é quem luta para sobreviver e garantir à nós a sobrevivência. Somos mais dependentes dela, do que ela de nós.

Um planejamento ambiental realizado em São Carlos em 1996 com base nas áreas públicas e áreas verdes, de autoria da universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), já nos alertava da baixa frequência das araucárias nas áreas urbanizadas da cidade. Mas a natureza não faz nada vão, a cada dia mais a cidade fica mais quente. Parece que está nos avisando do que estamos fazendo. Dizia Aristóteles, “em todas as coisas da natureza existe algo de maravilhoso”. A araucária foi maravilhosa por representar a fundação da nossa cidade, nossos valores, nossos lemas, aquilo que carregamos como fruto fundamental que nos mantém unidos como um só. Isso está em extinção, mas ainda há tempo. O que devemos fazer é dar importância às araucárias, à nossa tradição, e conciliar urbano com o, esperamos eterno, verde dos pinhais. Criei um projeto de recuperação das Araucárias em São Carlos. Estou doando 500 mudas dessa árvore às associações, escolas e entidades ou pessoas que cuidem de áreas verdes. Tenho o apoio do jornal 1ª Página. Peço a ajuda para definir locais de plantio e recebo pedidos de DOAÇÃO pelo e-mail ou pela página no Facebook SOS ARAUCÁRIA SÃO CARLOS. Vamos deixar para nossos filhos a melhor paisagem de São Carlos que pudermos.


Murilo Félix

Administrador de Empresas pela FGV-SP
Ciência Política e Investimentos em Países Emergentes na Harvard, EUA
Administração Financeira e Marketing pela HEC Montréal, Canadá
Empresário e produtor de Plantas em São Carlos

murilofelix@gvmail.br



quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

A VALIDADE DAS PROMESSAS

No seriado da Netflix, House of Cards, o protagonista Frank Underwood responde à personagem Linda, Secretária Geral do Presidente da República: “A natureza das promessas, Linda, é que elas se mantêm imunes a mudanças de circunstâncias”. Promessas são feitas para serem cumpridas, não há tempo que tire sua força. Ou deveria ser assim. Uma promessa não vai se resolver sozinha, a gente precisa se esforçar, e muito, para cumpri-la. Se a gente promete para alguém que irá chegar ao compromisso em 30 minutos, e chegamos em uma hora, esse fracasso é nosso apenas. Não se tem justificativa para isso. Não tivemos a decência mínima de respeitar uma promessa.

Nossas promessas precisam ter validade. Não precisam de algo escrito ou falado, apenas um aperto de mão, um beijo, uma confiança. Muito se fala sem o uso de palavras. Um gesto basta. A gente sente as palavras de quem a gente gosta sem ouvi-las. O que devemos é respeita-las. Todos nós já descumprimos promessas. Isso é do ser humano. Pessoas mudam, e promessas são quebradas. Mas passado é passado. Temos que reconhecer o momento daqui em diante, das promessas prometidas que deverão ser cumpridas. “A vida não é feita só de lembranças. Ela continua emocionante nas promessas diárias, nos pequenos gestos que fazem a alegria dos que caminham sempre juntos”.


Renato Russo dizia “quero honras e promessas, lembranças e histórias”. Todos somos assim. É a relação com outras pessoas que nos trazem felicidade. E a fidelidade é uma delas. E para que possamos ter promessas cumpridas, precisamos primeiro cumprir com as nossas. Por isso, não faça mais promessas que não poderá cumprir, seja realista. Ninguém é obrigado a seguir o caminho que todos dizem, se casar e ter filhos antes dos 30. Ninguém é obrigado a seguir o que a sociedade define como correto, mas devemos ser sensatos, escolher os caminhos corretos e fazer promessas que poderão ser cumpridas.

Murilo Félix

Administrador de Empresas pela FGV-SP
Ciência Política e Investimentos em Países Emergentes na Harvard, EUA
Administração Financeira e Marketing pela HEC Montréal, Canadá
Empresário e produtor de Plantas em São Carlos

murilofelix@gvmail.br